Saúde não é para todo mundo
Vitamina C na prevenção de gripes e resfriados só funciona para quem treina pesado
Paula Neiva
Em 1970, o químico americano Linus Pauling, ganhador de dois prêmios Nobel, causou uma pequena revolução ao lançar
o livro Vitamina C e o Resfriado. Nele, pregava que 1 grama diário de vitamina C era o suficiente para reduzir em 45% a incidência
de resfriados. A promessa de aplacar uma das doenças mais comuns, associada ao cacife de um cientista com a reputação de Pauling,
fez da vitamina C a campeã de vendas dos suplementos nutricionais. Passadas quase quatro décadas, médicos e nutricionistas
agora questionam o método Pauling de prevenção a gripes e resfriados. No maior estudo de revisão sobre o papel da vitamina
C em relação a esses males, pesquisadores europeus concluíram que a receita é absolutamente ineficaz – exceto para atletas
de alta performance, como maratonistas ou triatletas. Nesse grupo, os que tomavam a vitamina regularmente ficavam doentes
com uma freqüência 50% menor. Para o resto das pessoas, no entanto, os efeitos preventivos da vitamina C eram os mesmos de
um placebo – ou seja, não tinham serventia nenhuma. Ela se mostrou útil apenas para aliviar os sintomas de gripes e
resfriados e para diminuir o mal-estar (o que não deixa de ser bom, convenhamos).
Os especialistas que chegaram a essa conclusão foram convocados pela The Cochrane Collaboration, uma instituição internacional
independente, baseada na Inglaterra, que se dedica à análise crítica de teses e pesquisas científicas já divulgadas. Foram
compilados dados de trinta estudos realizados entre 1990 e 2006, que somavam 11.350 participantes. Todos os adeptos da vitamina
ingeriam doses diárias de, no mínimo, 200 miligramas. Ainda não há explicação para o fato de a suplementação só funcionar
como preventivo de gripes e resfriados em atletas. O que se sabe é que, depois de exercícios muito árduos, o organismo precisa
recompor tecidos danificados ou extenuados pela atividade intensa – funções para as quais a presença de vitamina C,
cujos níveis sofrem um grande rebaixamento durante o esforço físico, é imprescindível. Nesse processo de recomposição, o corpo
adquiriria mais resistência aos vírus.
"Falta ainda determinar a quantidade de vitamina necessária para obter essa proteção", diz um dos autores do trabalho,
o médico Harri Hemila, da Universidade de Helsinque, na Finlândia. Estabelecer a dose mínima para obter os efeitos positivos
da vitamina C é essencial para conter excessos. Há quem recorra a megadoses do suplemento para evitar males que vão do envelhecimento
da pele a câncer. "Desde que passei a tomar a vitamina C nunca mais fiquei gripada", diz a corredora Viviane Matero, de 31
anos. Faça chuva ou faça sol, ela treina pelo menos duas horas e meia, seis vezes por semana. Todos os dias, ingere 500 miligramas
de vitamina C. Para uma atleta como Viviane, realmente faz diferença.
SÓ PARA ATLETAS
Os benefícios da suplementação de vitamina C na prevenção de gripes e resfriados só valem para quem treina pesado.
O estudo considerou atletas apenas aqueles que treinam no mínimo uma hora e meia por dia, de cinco a seis vezes por semana.
Fontes: Celso Cukiert, nutrólogo, e The Cochrane Library
Revista VEJA
Edição 2018
25 de julho de 2007